Rogério Ceni encerrou sua carreira de atleta de futebol em dezembro. Pela primeira vez nos últimos 25 anos – 23 no grupo profissional –, o São Paulo se reapresentou sem a presença do goleiro. Uma sensação estranha de quem vê os goleiros treinando ou correndo em volta do gramado, ou mesmo ao se referir ao ídolo como "ex-jogador".
Maior da história tricolor, Ceni deixou diversas lacunas abertas. A posição incontestável no gol da equipe, a faixa de capitão, a responsabilidade nas cobranças de pênaltis e faltas, a liderança que exercia fora de campo... Após 10 dias de trabalho sob o comando de Edgardo Bauza, que só se encontrou com Rogério como adversário, é possível detectar alguns de seus herdeiros.
O argentino, contratado dias após a despedida de Ceni, escolheu um time titular logo no início dos treinos e o abraçou. Fez alguns testes contra o Juventus, mas parece disposto a criar um entrosamento, uma organização coletiva entre seus jogadores escolhidos. Nessas atividades, surgiram o próximo goleiro titular, um batedor de pênaltis, outro de faltas... Veja quem são:
Denis é o goleiro titular em todos os treinos do São Paulo na pré-temporada (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)
A diretoria manteve a ideia de não contratar um substituto para a posição. Entre Denis e Renan Ribeiro, Bauza optou pelo primeiro, que já terminou 2015 como titular, em razão da lesão de Rogério Ceni. Denis vai completar sete anos de São Paulo e, depois de se frustrar por duas vezes, quando o ídolo desistiu da aposentadoria e renovou contrato, finalmente herdou a vaga.
Denis fez preparação física especial nas férias para voltar bem fisicamente, algo que ele já havia planejado no fim de 2014. Dessa vez, poderá colocar tudo em prática.
– Sei que a cobrança vai ser grande e que qualquer erro será cobrado, independentemente de eu substituir o Rogério, mas peço que a torcida tenha um pouco de paciência e compreensão porque ele não estará mais aqui – afirmou, sincero, o novo camisa 1. A "01" se retirou com Ceni.
Lugano cumprimenta Bauza em sua chegada ao São Paulo: líder e treinador (Foto: Erico Leonan / site oficial do SPFC)
O discurso de que é preciso haver vários líderes se prolifera e é estimulado por todos no CT da Barra Funda, mas é inegável que, pela idade, personalidade, idolatria da torcida e história no clube, Diego Lugano será o "cabeça" entre os comandantes do grupo. Aos 35 anos, o zagueiro foi contratado pelo pacote que envolve sua presença no grupo. A diretoria, depois de muito relutar, concluiu que ele poderia liderar uma mudança de mentalidade, e transformar um elenco apenas talentoso também em aguerrido e com mentalidade vencedora.
– Ele assume naturalmente a liderança por sua maneira de ser. Vai me ajudar bastante porque todos os técnicos necessitam que sua palavra tenha continuidade dentro do plantel. Ele é um líder positivo e vai jogar para fazer a equipe crescer – disse Bauza sobre Lugano.
No último jogo do ano passado, Ganso usou a faixa de capitão do São Paulo (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)
Quando estiver em campo, Lugano muito provavelmente usará a faixa que foi de Rogério, e que o próprio goleiro o entregou ao sair do gol para a linha em seu jogo de despedida. Mas também há uma perspectiva de que o veterano zagueiro não esteja em campo com tanta frequência assim numa temporada repleta de partidas. Os primeiros jogos do ano, inclusive, deverão ser disputados sem ele.
Paulo Henrique Ganso terminou o ano como capitão. Rodrigo Caio e Alan Kardec são citados com frequência para ganharem a honraria. Todos são candidatos.
Michel Bastos tem batido faltas nos treinos do São Paulo: substituto de Ceni? (Foto: Érico Leonan / saopaulofc.net)
Nos primeiros treinos, atividades mostraram mais cobranças de faltas laterais, aquelas em que os jogadores lançam a bola na área à espera de uma conclusão certeira do companheiro, do que as diretas ao gol, as que Rogério Ceni batia. Mas é possível imaginar que Michel Bastos, batedor dessas laterais dos treinos, também seja o finalizador principal. Em 2015, ele fez gol de falta e, em outros momentos, levou perigo ao goleiro adversário. Paulo Henrique Ganso e Carlinhos também arriscaram em alguns momentos, mas Michel é o mais versátil na função.
Alan Kardec fez, de pênalti, o primeiro gol no jogo-treino contra o Juventus (Foto: Erico Leonan / site oficial do SPFC)
O jogo-treino contra o Juventus deixou claro que Alan Kardec será o cobrador. Ele abriu o placar, de pênalti, na vitória por 2 a 0. Uma substituição natural. O centroavante sempre cumpriu, em outros clubes, esse papel, e com qualidade. Porém, no São Paulo, as duas lembranças mais marcantes são erros: na semifinal da Copa Sul-Americana, quando ele escorregou contra o Atlético Nacional (COL), e na goleada de 6 a 1 sofrida para o Corinthians.
A missão de bater pênaltis deverá turbinar ainda mais a busca de K